Este blog nasce a partir da ideia do professor Robério Barreto, de criar um espaço de escrita na Web, com o objetivo de compartilhar as produções escritas da turma do curso de Letras - 2011.2 (UNEB - DCHT - CAMPUS XVI). O título "escreverpra(in)morrer" foi sugerido pelo referido professor, e traz a mensagem de que devemos escrever para não deixar morrer os nossos pensamentos, pois se eles não forem escritos morrerão quando morrermos.
quarta-feira, 7 de março de 2012
Postado por Eronnaide
Desabafo de um mendigo
Sente aqui meu companheiro
Precisamos conversar
Há coisas que tu não sabe
Que preciso lhe contar
E quem sabe me escutando
Mude a forma de me olhar
Ao me ver pelas calçadas
Você já vai se afastando
Coloca as mãos nos teus bolsos
E o celular vai guardando
Pois acho que não me olha
Como mais um ser humano
Se encontrar com um mendigo
Lhe causa preocupação
Porque acha que o mendigo
É sinônimo de ladrão
E não deve ser tratado
Como mais um cidadão
Eu não sei se o senhor sabe
Porque eu vivo na praça
Eu sou assim todo preto
Sempre sujo de fumaça
Passando diariamente
Por um monte de desgraça
Provavelmente não saiba
Mas resolvi lhe contar
Porque que nesta calçada
Eu resolvi me acampar
E viver constantemente
Vendo o senhor me humilhar
Um dia já fui criança
Fui um jovem sonhador
Eu nunca quis ser mendigo
Eu também quis ser doutor
E viver sempre limpinho
Como hoje vive o senhor
Eu desejei ter família
E uma casa pra morar
Uma cama confortável
Na hora de descansar
E um terno bem passado
Para poder desfilar
Eu sonhei com uma carreira
Com um salário bem legal
Pra poder pagar as contas
De comida e hospital
Pra ter boa saúde
E não viver passando mal
Acontece companheiro
Que fui só um sonhador
Pois o meu pai que deus o tenha
Muito cedo me largou
E este foi o começo
Da vida de um sofredor
Me disseram que a cidade
Seria minha salvação
E que aqui conseguiria
Me tornar um cidadão
E hoje posso dizer
Que foi tudo enganação
Quero que osenhor saiba
Porque eu durmo no chão
Porque que a minha comida
É colhida num latão
Para que você me trate
Como mais um cidadão
Se hoje eu moro na rua
Me alimento no lixão
De certa forma acredito
Que foi minha opção
Pois preferi comer lixo
A me tornar um ladrão
Se hoje vivo assim
É por não querer roubar
Porque se eu fosse um ladrão
Estava em outro lugar
Talvez tivesse morando
No prédio em que você está
Não quero que me abrace
Ou que pegue na minha mão
Nem que sorria pra mim
Ou me chame de irmão
Só não quero que me olhe
Como um mal a esta nação
Me desculpe ter tomado
O teu tempo precioso
E ter lhe assustado
Com meu olhar perigoso
Pois não era o meu desejo
Parecer tão temeroso
Sou grato por ter parado
Um tempo pra me escutar
Porque sei que pouca gente
Comigo irá conversar
Porque sabem que o meu cheiro
Não é fácil suportar.
Autor Léo Alecrim.
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