terça-feira, 14 de agosto de 2012

Resenha


UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
DCHT – CAMPUS XVI
                                     COLEGIADO DO CURSO DE LETRAS                                    

Adelmo Ferreira de Abreu


RESENHA DO LIVRO: O QUE É IDEOLOGIA? DE MARILENA CHAUI


CHAUI, Marilena. O que é ideologia?. Ed. Brasiliense, Coleção Primeiros Passos. São Paulo, 1997

Marilena Chaui nasceu em 1941, é uma filósofa e historiadora da filosofia brasileira. Tornou-se Mestre em 1967 com Merleau-Ponty e a Crítica Humanismo, formou-se doutora em 1971, com “Introdução a Leitura de Espinosa” e livre docente de filosofia em 1977, com “A nervura do real: Espinosa e a questão da liberdade”, pela USP. Além de extensa produção acadêmica, publicou livros paradidáticos de filosofia, voltados, sobretudo, para o público jovem ou não especializados. Seu livro “O que é ideologia” tornou-se um Best-seller e vendeu mais de cem mil exemplares, bastante acima da média de livros vendidos no Brasil. Hoje ela é professora titular de Filosofia Moderna da Faculdade de Filosofia e Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.


RESUMO: O livro de Marilena Chaui é composto por três capítulos: primeiro “partindo de alguns exemplos” que faz uma introdução ao conceito de ideologia partido desde Aristóteles, passando pelos filósofos da idade média até chegar a Marx; segundo “Histórico do termo” o qual como o seu próprio nome já diz vai buscar a origem do conceito de ideologia e sua transformação ao longo da história; o terceiro “A concepção marxista de ideologia” que faz um resumo da teoria de Marx na explicação do conceito de ideologia. Sua obra fala das teorias das quatro causas de Aristóteles que pode ser resumida em causa material, que um determinado corpo é constituído, a causa formal que significa a forma que a matéria adquire, a causa motriz ou eficiente que vem a ser a ação ou operação realizada sobre a matéria dando-lhe uma determinada forma e por último a causa final que é o motivo o a razão que um objeto tem uma determinada forma. Após a análise da obra de Aristóteles o livro parte para a análise da teoria de outros filósofos como Galileu, Francis Bacon e Descartes, afirmando que a partir destes a teoria das quatro causas se reduz a apenas duas, que são a causa final e a causa motriz. Trazendo uma nova concepção agora do homem como ser livre e universal tendo no trabalho seu engrandecimento natural e espiritual. A passagem de uma desqualificação do trabalho na visão de Aristóteles, para sua valorização na visão dos novos filósofos pode ser concebida como uma modificação ideológica ocorrida devido a uma necessidade da sociedade uma vez que aquele modelo antigo já não satisfazia a classe dominante do momento. Ela analisa a visão da corrente filosófica empirista e idealista dizendo que um ver a realidade como um dado imediato dos sentidos e para o outro como um dado imediato da consciência e alerta que não se trata de tomar essas relações como um dado ou fato observável, mas de compreender a própria origem como um processo histórico e neste caso o papel da ideologia é esconder dos homens a maneira original pela qual as relações na sociedade são produzidas, assim como, a forma como surgiram as diferenças sociais, a exploração e a dominação política. A partir de Augusto Conte a ideologia passou a ser vista também como um conjunto de ideias dominantes aceitas por todos como idéias, inclusive pelos intelectuais. Durkheim chamará de ideologia todo o conhecimento da sociedade que não respeite os critérios que separa o sujeito do conhecimento e objeto do conhecimento. Marx na construção do conceito de ideologia, diz que esta não é um fato sinônimo de subjetividade, oposta a objetividade, que não é preconceito nem pré-noção, mas que é um fato social justamente porque é produzida pelas relações sociais. E que existem razões determinadas para que elas surjam e se mantém, não sendo um monte de ideias falsas que prejudica a ciência, mas sim, a própria ciência a ajuda a mantê-la como uma verdade aceita por todos.


Marilena Chaui (1997) inicia sua obra falando das teorias das quatro causas de Aristóteles que explica a teoria do movimento, as quais podem ser resumidas como a mudança qualitativa de um corpo, a mudança quantitativa de um corpo qualquer, a mudança de lugar ou o deslocamento de um corpo qualquer e o nascimento de todas as coisas e do homem. Para Chaui (1997) a concepção de movimento de um grego é toda e qualquer alteração de uma realidade seja ela qual for.
Esse movimento gera as causas as quais podem ser definidas como a causa material, que um determinado corpo é constituído, a causa formal que significa a forma que a matéria adquire, a causa motriz ou eficiente que vem a ser a ação ou operação realizada sobre a matéria dando-lhe uma determinada forma e por último a causa final que é o motivo ou a razão que um objeto tem uma determinada forma.
Para a autora existe uma hierarquização destas quatro causas onde a mais importante seria a causa final e a menos importante seria a causa motriz ou eficiente. Essa hierarquização pode relacionar as quatro causas com a divisão social da sociedade escravocrata da época, onde a causa final seria o senhor, aquele que manda escolhe o que deve e o que não deve ser produzido e a causa motriz, o escravo, aquele que com sua força de trabalho transforma a matéria prima em mercadoria de acordo com o desejo do senhor.
 Depois de fazer esta abordagem a respeito da teoria das quatro causas de Aristóteles Chauí (1997) fala da ideologia dizendo que “um de seus traços fundamentais consiste, justamente, em tomar as idéias como independentes da realidade histórica e social, de modo a fazer com que tais ideias expliquem aquela realidade, quando na verdade é essa realidade que torna compreensíveis as ideias elaboradas.” (CHAUI, 1997, P. 10).
Após a análise da obra de Aristóteles o livro parte para a análise da teoria de outros filósofos como Galileu, Francis Bacon e Descartes, afirmando que a partir destes a teoria das quatro causas se reduz a apenas duas, que são a causa final e a causa motriz. Trazendo uma nova concepção agora do homem como ser livre e universal tendo no trabalho seu engrandecimento natural e espiritual.
A passagem de uma desqualificação do trabalho na visão de Aristóteles, para sua valorização na visão dos novos filósofos pode ser concebida como uma modificação ideológica ocorrida devido a uma necessidade da sociedade uma vez que aquele modelo antigo já não satisfazia a classe dominante do momento. E a esse respeito Chaui diz “é que agora estamos numa sociedade onde o homem se valoriza por si mesmo e não pela linhagem a que pertence como no feudalismo.” (CHAUI, 1997, P.14). Em seguida ela retoma o conceito de ideologia como “a realidade é constituída por ideias, das quais as coisas seriam uma espécie de receptáculo ou de encarnação provisória.” (CHAUI, 1997, P. 19).
A autora analisa a visão da corrente filosófica empirista e da idealista dizendo que um ver a realidade como um dado imediato dos sentidos e para o outro como um dado imediato da consciência e alerta que não se trata de tomar essas relações como um dado ou fato observável, mas de compreender a própria origem como um processo histórico e neste caso o papel da ideologia é esconder dos homens a maneira original pela qual as relações na sociedade são produzidas, assim como, a forma como surgiram as diferenças sociais, a exploração e a dominação política.
Para Chaui (1997), nosso papel ao estudar esta obra é compreender porque a ideologia é possível como ela surgiu com quais objetivos e quais os mecanismos que a torna possível e como ela pode influenciar na constituição do processo histórico, isto é na vida cultural das pessoas, na situação econômica da sociedade, assim como, nas formas políticas.
No segundo capítulo ela aborda a questão histórica do termo ideologia dizendo que ele surgiu pela primeira vez em 1801 no livro “Elementos de Ideologia” de De Tracy, livro que tinha como objetivo principal elaborar uma ciência da gênese das ideias, ou seja, compreender o ser humano na sua essência, a sua vontade, razão, percepção e memória. Na sequência ela diz que Napoleão em um discurso faz uma declaração dando ao termo ideologia um sentido pejorativo. E afirma também que Marx ao concordar com o discurso de Napoleão fala que o ideólogo é aquele que inverte as relações entre as idéias e o real. Com base nessa afirmação Chaui (1997) completa: “Assim, a IDEOLOGIA, que inicialmente designava uma ciência natural da aquisição, pelo homem, das ideias calcadas sobre o próprio real, passa a designar, daí por diante, um sistema de ideias condenadas a desconhecer sua relação real com o real.” (CHAUI, 1997, P. 25).
Foi Augusto Conte que voltou a empregar o conceito de ideologia num sentido próximo ao que ele era empregado na sua origem, ou seja, como uma ciência que estuda as ideias do homem e a partir daí ideologia passou a ser vista também como um conjunto de ideias dominantes aceitas por todos como idéias, inclusive pelos intelectuais da época. A autora chega a afirmar que no marxismo a concepção positivista de ideologia é, ela própria, ideológica.
Ela finaliza este tópico dizendo que Durkheim chamará de ideologia todo o conhecimento da sociedade que não respeite os critérios que separa o sujeito do conhecimento e objeto do conhecimento. E afirma que no tópico seguinte, o qual vai analisar a visão de Marx na construção do conceito de ideologia, diz que esta não é um fato sinônimo de subjetividade, oposta a objetividade, que não é preconceito nem pré-noção, mas que é um fato social justamente porque é produzida pelas relações sociais. E que existem razões determinadas para que elas surjam e se mantém, não sendo um monte de ideias falsas que prejudica a ciência, mas sim, a própria ciência a ajuda a mantê-la como uma verdade aceita por todos.
No terceiro tópico Chaui (1997) nos traz um resumo, das idéias de Marx sobre o conceito de ideologia, e para tanto, ela inicia situando as ideias de Marx a partir de sua realidade e de sues estudos e situando sua posição a respeito de cada uma das correntes que estudavam o termo em diferentes situações econômicas vividas na época. O conceito de ideologia começa a ser formado a partir do conceito de alienação o qual Marx diz que é dos homens reais em condições reais, ou seja, a alienação vem da convivência do homem ao logo da vida na sua constituição histórica, e aquilo que a sociedade prega como correto é correto para todos.
Em seguida analisa a questão do trabalho como forma de dominação da classe dominante através da exploração da força de trabalho da classe dominada. E esta realidade de exploração é mantida porque a ideologia tem o papel de esconder do trabalhador e fazer com que ele ache natural e normal, não se revoltando com tal situação.
Nesta visão o trabalhador acha normal trabalhar para o capitalista e receber apenas um salário que em muitos momentos da nossa história não dava se quer para suprir as necessidades básicas, sem falar na exploração da carga horária trabalhada que muitas vezes chegava ao extremo dos limites físicos do trabalhador.
Esta obra continua fazendo uma comparação entre o posicionamento de Hegel e Marx mostrando o ponto de vista de ambos em vários conceitos tais como Estado, Política entre outros para chegar a uma conclusão de que ideologia é um dos meios usados pelos dominantes para exercer a dominação, fazendo com que esta não seja percebida como tal pelos dominados. Nessa perspectiva Chaui (1997) diz que a ideologia tem vários aspectos entre eles podemos citar o de que as ideias esistem em si e por si mesma desde a eternidade, o que torna a ideologia possível é o fenômeno da alienação e o que torna a ideologia possível é a luta de classes, ou seja, a dominação de uma classe sobre a outra. E à medida que ela é resultado dessa luta de classe tem como função esconder a existência dessa luta.
Portanto Marilena Chaui constrói, não simplesmente define o conceito de ideologia de uma forma clara de fácil compreensão, apesar da complexidade da questão. Faz uma viagem a partir da antiguidade até a atualidade mostrando de forma resumida cada uma das correntes que tratou do conceito de ideologia ao longo da história, mostrando suas variações e seu próprio caráter de se adaptar a novas situações, obtendo varias roupagens exigidas pela transformação que a própria história do homem adquire ao longo dos tempos. É um livro pequeno, mas completo para aqueles que buscam compreender o fenômeno ideológico, indicado para qualquer pessoa que busca compreender a sociedade e como ela funciona em termos ideológicos.

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