UNIVERSIDADE DO
ESTADO DA BAHIA
DCHT – CAMPUS XVI
COLEGIADO
DO CURSO DE LETRAS
Adelmo Ferreira de Abreu
RESENHA DO LIVRO: O QUE É
IDEOLOGIA? DE MARILENA CHAUI
CHAUI, Marilena. O que é
ideologia?. Ed. Brasiliense, Coleção Primeiros Passos. São Paulo, 1997
Marilena
Chaui nasceu em 1941, é uma filósofa e historiadora da filosofia brasileira. Tornou-se
Mestre em 1967 com Merleau-Ponty e a Crítica Humanismo, formou-se doutora em
1971, com “Introdução a Leitura de Espinosa” e livre docente de filosofia em 1977,
com “A nervura do real: Espinosa e a questão da liberdade”, pela USP. Além de
extensa produção acadêmica, publicou livros paradidáticos de filosofia, voltados,
sobretudo, para o público jovem ou não especializados. Seu livro “O que é
ideologia” tornou-se um Best-seller e vendeu mais de cem mil exemplares,
bastante acima da média de livros vendidos no Brasil. Hoje ela é professora
titular de Filosofia Moderna da Faculdade de Filosofia e Letras e Ciências
Humanas da Universidade de São Paulo.
RESUMO: O livro de Marilena Chaui
é composto por três capítulos: primeiro “partindo de alguns exemplos” que faz
uma introdução ao conceito de ideologia partido desde Aristóteles, passando
pelos filósofos da idade média até chegar a Marx; segundo “Histórico do termo”
o qual como o seu próprio nome já diz vai buscar a origem do conceito de
ideologia e sua transformação ao longo da história; o terceiro “A concepção
marxista de ideologia” que faz um resumo da teoria de Marx na explicação do
conceito de ideologia. Sua obra fala das teorias das quatro causas de
Aristóteles que pode ser resumida em causa material, que um determinado corpo é
constituído, a causa formal que significa a forma que a matéria adquire, a
causa motriz ou eficiente que vem a ser a ação ou operação realizada sobre a
matéria dando-lhe uma determinada forma e por último a causa final que é o
motivo o a razão que um objeto tem uma determinada forma. Após a análise da
obra de Aristóteles o livro parte para a análise da teoria de outros filósofos
como Galileu, Francis Bacon e Descartes, afirmando que a partir destes a teoria
das quatro causas se reduz a apenas duas, que são a causa final e a causa
motriz. Trazendo uma nova concepção agora do homem como ser livre e universal
tendo no trabalho seu engrandecimento natural e espiritual. A passagem de uma
desqualificação do trabalho na visão de Aristóteles, para sua valorização na
visão dos novos filósofos pode ser concebida como uma modificação ideológica
ocorrida devido a uma necessidade da sociedade uma vez que aquele modelo antigo
já não satisfazia a classe dominante do momento. Ela analisa a visão da
corrente filosófica empirista e idealista dizendo que um ver a realidade como
um dado imediato dos sentidos e para o outro como um dado imediato da
consciência e alerta que não se trata de tomar essas relações como um dado ou
fato observável, mas de compreender a própria origem como um processo histórico
e neste caso o papel da ideologia é esconder dos homens a maneira original pela
qual as relações na sociedade são produzidas, assim como, a forma como surgiram
as diferenças sociais, a exploração e a dominação política. A partir de Augusto
Conte a ideologia passou a ser vista também como um conjunto de ideias
dominantes aceitas por todos como idéias, inclusive pelos intelectuais.
Durkheim chamará de ideologia todo o conhecimento da sociedade que não respeite
os critérios que separa o sujeito do conhecimento e objeto do conhecimento.
Marx na construção do conceito de ideologia, diz que esta não é um fato
sinônimo de subjetividade, oposta a objetividade, que não é preconceito nem
pré-noção, mas que é um fato social justamente porque é produzida pelas
relações sociais. E que existem razões determinadas para que elas surjam e se
mantém, não sendo um monte de ideias falsas que prejudica a ciência, mas sim, a
própria ciência a ajuda a mantê-la como uma verdade aceita por todos.
Marilena Chaui (1997) inicia sua
obra falando das teorias das quatro causas de Aristóteles que explica a teoria
do movimento, as quais podem ser resumidas como a mudança qualitativa de um
corpo, a mudança quantitativa de um corpo qualquer, a mudança de lugar ou o
deslocamento de um corpo qualquer e o nascimento de todas as coisas e do homem.
Para Chaui (1997) a concepção de movimento de um grego é toda e qualquer
alteração de uma realidade seja ela qual for.
Esse movimento gera as causas as
quais podem ser definidas como a causa material, que um determinado corpo é
constituído, a causa formal que significa a forma que a matéria adquire, a
causa motriz ou eficiente que vem a ser a ação ou operação realizada sobre a
matéria dando-lhe uma determinada forma e por último a causa final que é o
motivo ou a razão que um objeto tem uma determinada forma.
Para a autora existe uma
hierarquização destas quatro causas onde a mais importante seria a causa final
e a menos importante seria a causa motriz ou eficiente. Essa hierarquização
pode relacionar as quatro causas com a divisão social da sociedade escravocrata
da época, onde a causa final seria o senhor, aquele que manda escolhe o que
deve e o que não deve ser produzido e a causa motriz, o escravo, aquele que com
sua força de trabalho transforma a matéria prima em mercadoria de acordo com o
desejo do senhor.
Depois de fazer esta abordagem a respeito da
teoria das quatro causas de Aristóteles Chauí (1997) fala da ideologia dizendo
que “um de seus traços fundamentais consiste, justamente, em tomar as idéias
como independentes da realidade histórica e social, de modo a fazer com que
tais ideias expliquem aquela realidade, quando na verdade é essa realidade que
torna compreensíveis as ideias elaboradas.” (CHAUI, 1997, P. 10).
Após a análise da obra de
Aristóteles o livro parte para a análise da teoria de outros filósofos como
Galileu, Francis Bacon e Descartes, afirmando que a partir destes a teoria das
quatro causas se reduz a apenas duas, que são a causa final e a causa motriz.
Trazendo uma nova concepção agora do homem como ser livre e universal tendo no
trabalho seu engrandecimento natural e espiritual.
A passagem de uma desqualificação
do trabalho na visão de Aristóteles, para sua valorização na visão dos novos
filósofos pode ser concebida como uma modificação ideológica ocorrida devido a
uma necessidade da sociedade uma vez que aquele modelo antigo já não satisfazia
a classe dominante do momento. E a esse respeito Chaui diz “é que agora estamos
numa sociedade onde o homem se valoriza por si mesmo e não pela linhagem a que
pertence como no feudalismo.” (CHAUI, 1997, P.14). Em seguida ela retoma o
conceito de ideologia como “a realidade é constituída por ideias, das quais as
coisas seriam uma espécie de receptáculo ou de encarnação provisória.” (CHAUI,
1997, P. 19).
A autora analisa a visão da
corrente filosófica empirista e da idealista dizendo que um ver a realidade
como um dado imediato dos sentidos e para o outro como um dado imediato da
consciência e alerta que não se trata de tomar essas relações como um dado ou
fato observável, mas de compreender a própria origem como um processo histórico
e neste caso o papel da ideologia é esconder dos homens a maneira original pela
qual as relações na sociedade são produzidas, assim como, a forma como surgiram
as diferenças sociais, a exploração e a dominação política.
Para Chaui (1997), nosso papel ao
estudar esta obra é compreender porque a ideologia é possível como ela surgiu
com quais objetivos e quais os mecanismos que a torna possível e como ela pode
influenciar na constituição do processo histórico, isto é na vida cultural das
pessoas, na situação econômica da sociedade, assim como, nas formas políticas.
No segundo capítulo ela aborda a
questão histórica do termo ideologia dizendo que ele surgiu pela primeira vez
em 1801 no livro “Elementos de Ideologia” de De Tracy, livro que tinha como
objetivo principal elaborar uma ciência da gênese das ideias, ou seja,
compreender o ser humano na sua essência, a sua vontade, razão, percepção e
memória. Na sequência ela diz que Napoleão em um discurso faz uma declaração
dando ao termo ideologia um sentido pejorativo. E afirma também que Marx ao
concordar com o discurso de Napoleão fala que o ideólogo é aquele que inverte
as relações entre as idéias e o real. Com base nessa afirmação Chaui (1997)
completa: “Assim, a IDEOLOGIA, que
inicialmente designava uma ciência natural da aquisição, pelo homem, das ideias
calcadas sobre o próprio real, passa a designar, daí por diante, um sistema de
ideias condenadas a desconhecer sua relação real com o real.” (CHAUI, 1997, P.
25).
Foi Augusto Conte que voltou a
empregar o conceito de ideologia num sentido próximo ao que ele era empregado
na sua origem, ou seja, como uma ciência que estuda as ideias do homem e a
partir daí ideologia passou a ser vista também como um conjunto de ideias
dominantes aceitas por todos como idéias, inclusive pelos intelectuais da
época. A autora chega a afirmar que no marxismo a concepção positivista de
ideologia é, ela própria, ideológica.
Ela finaliza este tópico dizendo
que Durkheim chamará de ideologia todo o conhecimento da sociedade que não
respeite os critérios que separa o sujeito do conhecimento e objeto do
conhecimento. E afirma que no tópico seguinte, o qual vai analisar a visão de
Marx na construção do conceito de ideologia, diz que esta não é um fato
sinônimo de subjetividade, oposta a objetividade, que não é preconceito nem
pré-noção, mas que é um fato social justamente porque é produzida pelas
relações sociais. E que existem razões determinadas para que elas surjam e se
mantém, não sendo um monte de ideias falsas que prejudica a ciência, mas sim, a
própria ciência a ajuda a mantê-la como uma verdade aceita por todos.
No terceiro tópico Chaui (1997)
nos traz um resumo, das idéias de Marx sobre o conceito de ideologia, e para
tanto, ela inicia situando as ideias de Marx a partir de sua realidade e de
sues estudos e situando sua posição a respeito de cada uma das correntes que
estudavam o termo em diferentes situações econômicas vividas na época. O
conceito de ideologia começa a ser formado a partir do conceito de alienação o
qual Marx diz que é dos homens reais em condições reais, ou seja, a alienação
vem da convivência do homem ao logo da vida na sua constituição histórica, e
aquilo que a sociedade prega como correto é correto para todos.
Em seguida analisa a questão do
trabalho como forma de dominação da classe dominante através da exploração da
força de trabalho da classe dominada. E esta realidade de exploração é mantida
porque a ideologia tem o papel de esconder do trabalhador e fazer com que ele
ache natural e normal, não se revoltando com tal situação.
Nesta visão o trabalhador acha
normal trabalhar para o capitalista e receber apenas um salário que em muitos
momentos da nossa história não dava se quer para suprir as necessidades
básicas, sem falar na exploração da carga horária trabalhada que muitas vezes
chegava ao extremo dos limites físicos do trabalhador.
Esta obra continua fazendo uma
comparação entre o posicionamento de Hegel e Marx mostrando o ponto de vista de
ambos em vários conceitos tais como Estado, Política entre outros para chegar a
uma conclusão de que ideologia é um dos meios usados pelos dominantes para
exercer a dominação, fazendo com que esta não seja percebida como tal pelos
dominados. Nessa perspectiva Chaui (1997) diz que a ideologia tem vários
aspectos entre eles podemos citar o de que as ideias esistem em si e por si
mesma desde a eternidade, o que torna a ideologia possível é o fenômeno da
alienação e o que torna a ideologia possível é a luta de classes, ou seja, a
dominação de uma classe sobre a outra. E à medida que ela é resultado dessa
luta de classe tem como função esconder a existência dessa luta.
Portanto Marilena Chaui constrói,
não simplesmente define o conceito de ideologia de uma forma clara de fácil
compreensão, apesar da complexidade da questão. Faz uma viagem a partir da
antiguidade até a atualidade mostrando de forma resumida cada uma das correntes
que tratou do conceito de ideologia ao longo da história, mostrando suas
variações e seu próprio caráter de se adaptar a novas situações, obtendo varias
roupagens exigidas pela transformação que a própria história do homem adquire
ao longo dos tempos. É um livro pequeno, mas completo para aqueles que buscam
compreender o fenômeno ideológico, indicado para qualquer pessoa que busca
compreender a sociedade e como ela funciona em termos ideológicos.