FRANK, Anne, 1929-1945. O diário de Anne Frank: edição
integral/ Anne Frank; tradução de Ivanir Alves Calado. – 25ª edição. – Rio de
Janeiro: Record, 2008. 352p.
“O
diário de Anne Frank” é uma obra não fictícia escrita por uma menina
alemã-judia de 13 anos, durante a Segunda Grande Guerra. Escrito por Annelies
Marie Frank (Anne Frank), revista por Otto Frank (seu pai), organizada por
Mirjam Presler e traduzida do alemão para o português por Ivanir Alves Calado,
a
edição da Record tem formato de diário e possui 352 páginas, sem divisões por
capítulo.
Escrito
no período de 12 de junho de 1942 a 1º de agosto de 1944, a obra documenta o
pequeno período de vida da autora, a convivência com seus parentes mais
próximos e alguns amigos, escondida dentro do porão ou anexo (acima da fábrica
de temperos caseiros, onde antigamente seu pai trabalhara), que lhes servira
por casa durante dois anos, enquanto fugiam do terrível regime nazista. O
regime comandado por Hitler, que roubava, prendia, torturava e até matava
judeus, negros, homossexuais ou qualquer pessoa que agia contrariamente a seus
ideais lunáticos.
A
obra de Frank é escrita toda em 1ª pessoa, ela dialoga com o seu próprio diário
(o qual ela intitula de Kitty). Tem por objetivo inicial compartilhar seus
sentimentos, angústias e pequenas alegrias ao seu diário. E após ouvir numa
transmissão radiofônica o incentivo da escrita de relatos e eventos
relacionados à Guerra, Anne Frank começa a escrevê-la na intenção de
publicá-lo, já que ser escritora era um dos seus grandes anseios.
Umas
das marcas da autora é seu estilo irônico em suas declarações espontâneas.
Descreve a maneira bem subjetiva o seu relacionamento conturbado com a mãe e
amoroso com o seu pai. Anne transforma sua triste realidade em palavras. No
decorrer do livro em diversos relatos, descreve o horror de ver ou ouvir
bombardeios de prédios próximos de si, aviões caindo, incêndios e tiroteios nas
ruas, além das notícias em sua maioria ruins, trazidas pela rádio e das quatro
pessoas que os ajudavam a permanecer escondidos, são eles: A ex-secretária do
pai de Anne que ainda trabalhava na fábrica, o que facilitava seu disfarce. Um
casal de amigos dos Frank e ainda outro senhor amigo da família.
Em
meio à tensão constante, o pavor de que o anexo seja descoberto e as ameaças que
a cada dia se tornavam mais próximas dos moradores do anexo, Anne mantinha uma
esperança única e compartilhava de momentos de intensa alegria. Ainda em meio
de todo esse cenário, a personagem principal desfrutava de um romance com um
dos moradores do esconderijo, Peter van Daan que tinha três anos a mais que
Anne e juntos, proporcionam belas páginas escritas da obra.
A
marca do tempo do texto é bem definida. A linha cronológica é seguida à risca.
Durante os dois anos em que esteve escondida, Anne escreveu em intervalos
curtos, quando não todos os dias, as datas dos textos do diário estão entre
dois e quatro dias e sempre seguindo o tempo crescente do ano. Não é
apresentado flash black entre os
textos. O modo de narrativa é em tempo presente. Quando o esconderijo foi
descoberto pelos nazistas e os moradores foram abruptamente levados para o
campo de concentração (Bergen-Belsen) para judeus, Anne que nem mesmo
completara dezesseis anos, não pode concluir seus escritos. Ficando no ar uma
interrogação: O que teria acontecido com Anne, seus amigos e parentes?
Nos
últimos cinquenta anos, “O diário de Anne Frank” tem sido utilizado como
inspiração para jovens desejosos por liberdade. Suas palavras ajudam a refletir
atitudes impensáveis de seres humanos com obscuros delírios semelhantes aos de
Hitler. O texto escrito em formato de diário não é um gênero muito utilizado em
meios acadêmicos, embora seja conhecido de quase todos e de vários escritores
com cânone terem escrito textos nesse formato. Obedientes ao calendário
presente fugaz de cada dia, o diário íntimo pode ser de grande interesse
literário, pois em seu ponto de vista é o mais relevante.
“O
Diário de Anne Frank” se torna um documento literário por retratar os crimes
nazistas que ocorreram na mesma época em que o diário estava sendo escrito.
Anne se tornou ‘‘a vítima mais conhecida de Hitler.” (MÜLLER, Record 2007,
p.11) por meio de um texto envolvente, nos faz refletir o porque de tantos
seres humanos serem tão ruins até mesmo com pessoas iguais a elas,
como a própria autora escreve num dos trechos mais lúcidos de sua condição de
vítima do Holocausto: “Excelentes
espécimes de humanidade, esses alemães, e pensar que na verdade sou um deles!
Não, isso não é verdade, Hitler retirou nossa nacionalidade há muito tempo. E
além disso não há maiores inimigos na terra do que alemães e judeus.” (p.65),
isso dito pela menina alemã que perdeu sua nacionalidade no Holocausto.
Ana Carla Alves, Érica de Souza e Denise Barbosa.
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