Universidade do Estado da Bahia
Departamento de Ciências Humanas e Tecnologias
DCHT – Campus XVI – Irecê – BA
Componente Curricular – Leitura e Escrita
Docente – Robério Barreto
Discente – Adelmo Ferreira de Abreu
Referência: Schopenhauer, Arthur. A Arte de Escrever. Porto Alegre. Coleção L&PM Pocket, vol 479. Dez. de 2009.
Resumo
A obra “A Arte de Escrever” é subdividida em cinco partes: Sobre a erudição e os eruditos, Pensar por si mesmo, Sobre a escrita e o estilo, Sobre a leitura e os livros e Sobre a linguagem e as palavras. Os quais tratam especificamente do mesmo assunto que é a literatura. Esta obra está marcada por uma forte crítica aos escritores de sua época, principalmente a Hegel e seus discípulos. Critica, também, os escritores que escrevem apenas para vender livros.
Sobre os eruditos, Schopenhauer, diz que assim como a pessoa que lê e aprende em excesso é tão prejudicial ao pensamento próprio quanto aquela que escreve e ensina em excesso, pois esta não tem tempo para construir o saber. Os eruditos da academia de Berlim são os responsáveis pela pouca qualidade na escolha das obras a serem exaltadas e isso faz com que grandes filósofos são esquecidos e péssimos escritores exaltados.
O bom escritor deve se aprofundar em um determinado campo específico da ciência se quiser ter o reconhecimento em seu campo de estudo se tornando o verdadeiro conhecedor deste assunto mesmo que nas demais áreas do conhecimento seja igual a um homem qualquer.
A capacidade alemã de julgar faz com que falte o controle de uma metafísica digna e a falta de continuidade no aprendizado das línguas antigas.
Uma grande quantidade de conhecimento quando não adquirida por seus próprios pensamentos tem muito menos valor do que uma pequena quantidade quando bem assimilada, ou seja, só tem valor aquilo que escrevemos através de nossos próprios pensamentos, e não quando escrevemos com o pensamento dos outros. Os verdadeiros escritores são aqueles que o pensamento flui naturalmente assim como a própria respiração, e estes são bastante raros entre os eruditos. Aquela pessoa que a cada segundo está com um novo livro na mão não tem pensamentos próprios, esta pessoa não tem tempo para pensar por si mesma.
A melhor fonte de inspiração para um escritor é sua vivência de mundo, para ele uma pessoa só deve pegar um livro para ler quando a fonte de seus pensamentos secarem o que ocorre com frequência mesmo entre os maiores gênios. Estes precisam ler muito, mas são capazes de lidar com o pensamento alheio e assimilá-los e incorporar aos seus próprios pensamentos o que não costuma ocorrer com os eruditos.
A pessoa que tira os seus conhecimentos dos livros que ler é como aquelas pessoas que conhecem um determinado lugar apenas de ouvir falar, esta pode até escrever sobre este local, mas jamais escreverá tão bem quanto aquela que esteve neste local pessoalmente, que vivenciou a paisagem, sentiu o clima. Só o que escreve com os seus próprios pensamentos é capaz de escrever como o viajante que esteve in loco.
Exite dois tipos de escritores os que escreve em função do assunto e os que escreve em função da conta bancária. Os primeiros são os pensadores que investigam que pensam antes de escrever, já o segundo escreve apenas para ganhar dinheiro, estes são responsáveis pela deterioração da língua. Logo em seguida ele diz que existem três tipos de escritores os que escrevem sem pensar, os que escrevem enquanto pensa, e os que pensam, depois se põem a escrever. Os dois primeiros são bastante numerosos, já o terceiro caso é raro e somente eles são dignos de serem lidos.
Schopenhauer afirma que o novo raramente é bom, pois o que é bom só é novo por pouco tempo, esta afirmação só corrobora com suas afirmações anteriores, pois se os verdadeiros escritores são raros, as boas obras, também, são raras e assim apenas as boas obras se perpetuam pela eternidade. Para ele a culpa, de 9 em cada 10 obras produzidas serem de péssima qualidade, é das revistas literárias as quais deveria agir de maneira justa e incorruptível para não deixarem as “cabeças vazias” encherem o mercado com estas obras mal feitas. Os críticos não valorizam a qualidade dos livros, mas sim, a editora os publica, seja por apadrinhamento ou por propina ou mesmo por camaradagem. E deste jeito muitas vezes o que é bom é descartado enquanto que obras frívolas são valorizadas.
O estilo é a alma do escritor, e quem tenta imitá-lo não demora muito a ser desmascarado. Conhecendo o estilo de um escritor não é necessário conhecer todas as suas obras, pois os verdadeiros escritores têm um estilo próprio de mostrar como pensam, eles se utilizam de um método claro e simples para expor suas ideias e é assim que faze quem tem algo a dizer, ou uma mensagem a transmitir. É neste ponto que mais uma vez ele critica o estilo de Hegel e seus seguidores dizendo que ele utiliza de frases complicadas para não dizer nada. Segundo ele:
“Com frequência, essas pessoas querem esconder de si mesmas e dos outros o fato de que na verdade não têm nada a dizer. Querem dar a impressão, como Fichte, Schelling e Hegel, de saber o que não sabem, de pensar o que não pensam, de dizer o que não dizem.” (pág. 92)
A palavra dos homens é o material mais duradouro que existe, isto quando petrificada através da escrita. Ele afirma que o homem deve aprender varias línguas, pois só assim ele consegue entender verdadeiramente os conceitos de forma autêntica, pois não existe para cada palavra um correspondente exato numa outra língua, por esta razão todas as traduções são imperfeitas. Citando Carlos V, ele diz: "Quantas línguas alguém fala, tantas vezes ele é um homem".
Analisando esta obra pude perceber que, talvez pela a revolta que o autor tinha da sociedade na época, ele utiliza de palavras fortes para criticar os seus adversários, se é que existem adversários na arte de escrever. Com certeza ele teria transmitido a mesma mensagem sem a necessidade de utilizar tais palavras. E suas críticas a Hegel são infundadas, pois se este fosse um charlatão, como ele afirma, suas obras não serviriam de inspiração para tantos escritores de diversas áreas do conhecimento por tanto tempo, até mesmo por que segundo Schopenhauer o que não é bom não dura por muito tempo.
Sua repetição de conceitos pode até facilitar o entendimento, mas é um ponto contraditório, pois ele prega que devemos ter concisão na elaboração de nosso discurso. Outro ponto negativo é sua falta de modéstia, quando coloca sua própria obra entre as melhores. Apesar destas pequenas falhas é uma obra que todo aquele que pensa em ser um bom escritor devem tê-la em suas referências bibliográficas.